segunda-feira, 6 de junho de 2016

let's water ourselves, shall we?

O ciclo sem fim de nos afogarmos a nós mesmos para velhos hábitos, velhos papéis que já não se encontram alinhados com a nossa energia, como forma de nos purificarmos e assim evoluirmos para um estado de maior evolução, maior harmonia, renascendo.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Lion's Roar

As pessoas dizem que quando se escreve sobre algo é porque não se vive esse algo. Eu discordo.
Quando deitamos algo cá para fora é porque o temos suficientemente inteiro, para que possa sair coeso, sólido, palpável, real.
Os fragmentos não têm pernas para andar, não poderiam nunca ter. São membros soltos, desagregados, suspensos - flutuam entre a linha que separa o consciente do inconsciente: saltam, recalcam-se, saltam e percorrem esse ciclo até que uma rede os agregue. Uma rede que aparece como uma fada com o poder de dar voz ao inaudível.
Sinto-me mais coesa. Há dentro de mim algo que se montou, qual puzzle. Não sei o que é, mas sinto-o. Sinto-me mais forte, mais eu, mais mais mais.
Como se existissem duas de mim e uma se virasse para a outra: "finalmente. estava à tua espera, começava a pensar que não chegarias nunca." e houvesse um abraço. Um abraço poderoso, tão seguro, tão bom. Um abraço que grita amor e paz. Um abraço a simbolizar o fim às auto-mutilações, às culpas. Um abraço estridente, que se ouve em todos os cantos do mundo, como um rugido de leão, que não é fúria, que é vida e garra, gratidão por estar viva.
Olho-me ao espelho e acho-me mais bonita. Com certeza não mudei mas estes reflexos, efeitos colaterais do que se constrói por dentro, vêem-se por fora - do meu olhar sobre mim.
Este espelho não é só o espelho de vidro, é o sorriso e o olhar das pessoas à minha volta. É como se todos me estivessem a parabenizar, como se fosse o dia especial em que nasce uma pequena bebé e tudo o que esse feminino representa em beleza e importância. Como se honrassem em mim o poder de ser mulher.
Coisas destas que se sentem e que são tão distantes do que se pode colocar em palavras.
É como se até já nem existisse mal em dar a palavra errada porque o sentimento é certo e seguro. Agora são as palavras que podem ser menos apropriadas, não os sentimentos que possam não ser apropriados. Vamos senti-los todos.
Um recipiente sem falhas nem buracos por onde pudesse escorrer tudo, um recipiente que segura, que agrega, que se entrega (e ao seu conteúdo) inteiro.
Um transpor a linha que proíbe.
Um virar-me de costas num abismo e soltar-me, sem medo.
Segurar-me-ão? Não - segurar-me-ei.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Sou uma apreciadora de detalhes. 

Há detalhes lindos que se guardam algures cá dentro e que se recordam como se estivessem envoltos numa moldura emocional.

Noto que se tem tornado cada vez mais difícil representar mentalmente detalhes, agora registo sobretudo a sensação geral de um momento, do outro, de mim. Como se fosse uma pintura abstracta, esbatida, onde não se distinguem limites. um Monet. Esta ausência do compartimentar as emoções, como se deixássemos de ser um coleccionador de selos para passar a enviar e receber cartas e desfrutar simplesmente do selo presente, abre espaço para que a vida se instale.

Os pormenores que se desembrulham, quais presentes, diante dos nossos olhos a pedir: apreciem-me, regozijem-se com a minha beleza, ou falta dela.

Os lábios que se afastam da pequena falha de uma chávena de café, acomodando-se na superfície intacta; as gotas de água que se aglomeraram num mosaico, escorridas de um guarda-chuva que descansa a um canto; os cabelos que se vão organizando em volta dos dentes da escova de pentear, a cada passagem, permitindo-se em conjunto alcançar o desemaranhar; o relevo das rugas de uma colcha de cama, que assinala uma presença que ali encontrou lugar e depois partiu; a mão que escreve este texto e arrefece e, fria, se junta de vez em quando à outra mão - o contraste - uma quente, outra fria.

O reverso da medalha de se ter uma pele psíquica mais forte: menor intensidade. menor susceptibilidade. menor sensibilidade. menor atenção ao detalhe. 




quinta-feira, 5 de novembro de 2015

psic everywhere.

"Every time I draw a man, I find myself thinking of my father… To me a man means 'Don José' and it will always be so, all my life. He wore a beard… All the men I draw I see more or less with his features." 
Pablo Picasso


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

she's a maniac

e essas fases maníacas, rescaldo do fundo do poço emergem espontaneamente abruptas,
invencíveis, poderosas, a velocidade astronómica. 
Sangue quente, fervoroso.

(coisas.)

Rostos.

Se no mundo todas as caras fossem familiares seria esgotante. Às vezes, penso que os rostos desconhecidos são convites ao descanso mental, um escape ao constante rodopio interno, o que se torna possível porque se ignora que por trás de cada rosto vive uma história de vida tão ou mais complexa que a nossa, repleta de interrogações, anseios e paixões. O desconhecido atribui-lhes leveza.
No entanto, seria igualmente insuportável se nenhum rosto fosse familiar, paralelo ao inferno existe uma paz de se chegar onde nos reconhecem e sabem o que é isto que transporto comigo e me define como eu.